Enquanto o bom velhinho fica subindo escadas nos parapeitos das casas, levando imaginação e sonhos a muitas crianças, os adultos se satisfazem com aquele boneco de roupa vermelha enfeitando seus lares. Ali na sacolinha do pai Noel, a cor verde-esperança não há nada. Os presentes almejados estão na capacidade de cada um enchê-la com cada item que acredita.
Papai Noel para mim era um nome que dei a Jesus quando era pequenina, depois de muitas vezes esperar o bom velhinho chegar nas madrugadas de natal lá no orfanato e depois nas ruas, sem êxito. No orfanato, eu pensava que ele não havia achado o nosso lar, porque não havia aquelas luzinhas piscando na sacada, por isso desviava sempre da nossa porta. E nas ruas era porque no meu canto de dormir não havia nem paredes, nem janelas e muito menos porta.
Um dia enquanto assistia um coral na praça, eu vi aquele homem de barba branquinha e roupa vermelha, sentado numa cadeira e muitas crianças indo até ele. Percebi que ele apenas as abraçava e lhes dava uma bala, fiquei confusa... Ele sempre era o homem de grandes presentes, mas vai ver ele já havia distribuído antes, e aquele momento era apenas dos abraços.
Passei as mãos nos cabelos, tentando ficar bonita, a mão no rosto para tirar a graxa e não sujá-lo, mas não consegui tirar tudo, então com um sorrisão bem grande fui passando pelas pessoas, e como se fosse alguém importante entrei na fila e me direcionei ao bom velhinho. A fila para chegar até ele estava pequena, ele já havia distribuído muitos, muitos abraços, faltava ainda três crianças e eu era a última das três, mas a fila já crescia outra vez detrás de mim.
Uma senhora então me tocou no braço quando só faltava mais uma menina que já havia ido, e eu era a próxima. “Menina vá lá para o final da fila, não percebe que irá sujar o papai Noel com essa lama”?
Eu - Não moça, eu quero só pedir um presente eu nem vou beijá-lo.
Ela - Olhe tome essa moeda, e vá comprar o que você gosta de usar.
Eu - Pode ser depois?
Ela - Agora!
Eu - Então obrigada, eu uso a janta depois, vou primeiro pedir um presente pra mim.
Ela - m e n i n a, vá para o final da fila, não percebe que todas as crianças estão limpas? Sai!
Saí da fila e fiquei ao lado, e a próxima menina foi para ganhar o abraço que poderia ser meu. Fui até um chafariz e passei água no rosto e nos cabelos, então sentei no meio fio e fiquei olhando, as meninas limpas abraçá-lo. De repente uma voz doce e terna afagou minha cabeça e disse: Você vai mesmo ficar sentada aí, sem seu presente? Olhei para cima e ele parecia a bondade em forma de pessoa.
Eu - mas estou suja!
Ele - nunca vi alguém tão limpa.
Eu - verdade?
Ele - sim.
Eu - então vou esperar ele abraçar logo todo mundo e depois vou lá.
Ele - mas e se os presentes acabarem?
Eu - o meu nunca vai acabar. Ele sorriu e me ajudou a levantar, então retornei outra vez à fila. (É, eu sempre fui persistente rsrsr)
Então outra vez já estava perto, quando uma garota atrás de mim me diz: hei menina, você deixa eu ficar na sua frente? Eu troco o seu lugar por um sorvete quer?
Eu - não obrigada! Então ela puxou meu cabelo e ficou puxando, me beliscando, mas eu precisava pedir um presente e fiquei suportando a dor. As lágrimas caiam dos meus olhos sem que eu pudesse fazê-las pararem, tudo aquilo me doía muito, mas eu precisava chegar até ele.
Então quando já era a minha vez, e eu caminhava para lá, ela deixou seu pé na frente da minha perna e eu caí. Ela passou à frente e eu levantei, enxuguei meu rosto e saí quando o papai Noel me chamou. O susto foi imenso, ainda olhei para os lados e ele disse: É você mesmo, vem cá meu anjo. Limpei minha roupa com as mãos, o cabelo e fui toda alegria para ele.
Ele - bom amiguinha, eu estava aqui vendo todo seu esforço de chegar até mim desde a primeira vez que entrou na fila.
Eu - é?
Ele - sim!
Então me sentou em seu colo, tirou meu cabelo do rosto e me beijou a testa. Depois segurando minhas duas mãos e olhando em meus olhos e bem dentro deles, ele perguntou: porque quis vir aqui?
Eu - para pedir um presente.
Ele - e qual seria este presente menina?
Ela - então não sabe meu nome?
Ele - Se você quiser me dizer...
Ela - Sim, primeiro meu nome é Fernanda, acho que até é por isso que o senhor não me achava né?
Ele - talvez. Mas me diga Fernanda, o que quer de presente?
Ela - minha mãe e meu pai.
Ele - então você não os tem?
Eu - Tenho lá no céu, mas Deus nos dá um aqui na terra também, e eu tive, mas é que minha mãe me deixou lá no orfanato por uma semana quando eu era bem pequenina, e não aprendeu mais o caminho de ir me buscar. Então eu queria que você tirasse daí de dentro da sua sacola mágica, eles e me desse de presente hoje, é só isso e mais nada por favor.
Ele me abraçou demorado e disse com a voz diferente, uma voz de nó na garganta, como eu sempre fazia quando não queria chorar. _ De toda certeza que tenho no meu coração Fernanda, você vai achar seus pais. Eu não os tenho aqui comigo, mas você sim. Então lhe perguntei: eu?
Ele - sim aí dentro do seu coração, mas haverá um dia em que eles estarão também aqui fora, partilhando os natais com você e tudo mais, você acredita?
Eu - sim!
Ele - então esse será seu melhor presente, vou encaminhar todos os dias uma cartinha para o papai Noel que pode tudo e ele te dará com certeza esse presente.
Ela - tá bom, então pode me dar um abraço?
Ele - um abraço, um beijo, esse chocolate e minha eterna amizade.
Saí de lá com meu coração tão feliz, parecia que havia ganho um presente que acalma a alma.
Fui para a beira da praia, e a lua estava bem redonda. Ajoelhei e pensei: papai noel que pode tudo? Já sei! Ele estava falado do Senhor do alto.
Então é papai Noel também né? Só que de todos os dias, sem ser só dos natais. Porque nos natais você não pode. Está nascendo nos corações das pessoas.
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Gratidão♥♫