Eu fico imaginando essa menina, se tivesse nascido do jeito certo, tivesse tido a regalia de um berço quentinho, com figuras de borboletas e flores enfeitando o quarto, ou uns brinquedos espalhados no cantinho da cama, onde brincava enquanto mãos quentinhas e amorosas lhe colocavam um novo agasalho.
Eu fico imaginando essa menina, tentando olhar da janela na pontinha dos pés, para ver se conseguia olhar o céu e conversar com Deus, mas era tão pequenina, que apenas chegava com os dedinhos lá bem próximo dela, mas se não pulasse muitas vezes nem conseguiria perceber o azul que enfeitava seus dias cinza naquele lugar. No entanto sua persistência era hercúlea, na quinta saltada, sentava ao chão e se dirigia a Ele sem céu mesmo. Mas não ficava sem dizer o que estava sentindo para o amigão do alto.
Eu fico imaginando quando perguntava sobre o natal, e a faisquinha nos olhos era de um gosto só. Ainda havia o samba alegre no peito, por sentir que o rumo da prosa ia ter pedido novo.
E ela pedia que o papai Noel naquele ano trouxesse pais para a Bia, a Maria, a Suzana e para todas as suas amiguinhas. Mas para ela não precisa ouviu papai do céu? Eu já tenho os meus. Qualquer dia desses eles vêm e me levam para casa tá?
Eu fico imaginando, quando os dias passavam, os natais se repetiam e da janela, ela ainda não conseguia observar nada, era naniquinha, mas já dava para subir na cama e verificar o brilho das estrelas piscando para ela, como se dissessem: menina eles vão vir, não perca a esperança. Ela não perdia, lembrava sempre que a senhora do orfanato lhe dissera. “Ela disse que voltaria para te buscar”. Não queria lembrar-se daquela parte que a moça disse (em 2 dias). Essa ela fazia questão de esquecer.
Eu fico imaginando como a menina chorava bem caladinha e se ouvia apenas um soluço tão baixinho, que se precisavam atinar bem os ouvidos para ouvir.
Mas de tanto pedir por seus amiguinhos, decidiu pedir também para si e para isso não iria esperar o natal. Iria falar com seu amigão do alto também sobre isso durante os dias. E falou, e pediu, e esperou.
Ela disse: Senhor do alto, não pense que não sei do seu trabalho aqui na Terra, sei que é muito pesado cuidar de um mundão vasto assim, mas quando estiver cuidando e pondo as coisas em ordem, descobre dona Helena para mim? Pode plantar no coração dela uma saudade bem grandona da menina que ela deixou aqui. Fala para ela que ninguém trocou o meu nome, ainda é o mesmo, e que eu continuo esperando há quatro anos. Diz também que eu mudei, mas só um pouquinho, meus cabelos cresceram e eu fiquei branca de doer, mas tenho a correntinha que ela deixou no meu pescoço.
Eu fico imaginando na choradeira que foi, quando mais um ano passou e nada! E doía tanto por dentro dela que a menina não sabia mais como massagear o peito, para parar a dor. Olhava em volta, via os pequenos como ela dormindo e se compadecia deles também. Somos todos irmãos de pais diferentes na Terra, mas somos iguais perante o Senhor do alto. Queria que cada um deles tivesse um lar, um pai e uma mãe, mesmo que ela nunca mais pudesse ter.
Eu fico imaginando a felicidade nos olhos dela quando cada um dos seus irmãos de lar, foram adotados, ela olhava da janela com a ajuda de um banquinho, a felicidade deles, e corria de um lado para o outro do quarto, e o sorriso largo fartando-lhe a face. Era sua felicidade também ali. Juntava as mãozinhas numa alegria tão pura.
Eu fico imaginando, como foi difícil aprender a guardar a tristeza numa caixinha dentro do peito, porque as outras pessoas precisavam de alegria. Ela também carecia de gargalhar para não enraizar a tristeza na alma, e foi o que fez. Foi plantar flores e amor no mundo, era sua responsabilidade, ela sentia que era.
Eu fico imaginando, quando levou uma surra de camisa molhada aos 4 anos, porque o lençol de sua cama não deixou a bolinha de gude rolar livremente sobre ela, para constatar que a arrumação estava impecável. Ela correu para o canto do quarto e foi chorar uma dor misturada, dor física com dor na alma. Tão gigante tudo aquilo, que a menina decidiu fugir dali para nunca mais voltar.
Eu fico imaginando, na primeira noite descobrindo um céu sem grades, sem bancos, sem confessionários. Ali ela podia chamar o Senhor do alto, sem receios de a senhora má os ouvir, apenas com o receio de um novato em algo que depara pela primeira vez.
Eu fico imaginando, como a maldade pode ser cíclica, principalmente por força de poder. Os dias vieram como que confusos e maravilhosos. Cheios de descobertas e decepções, mas havia força de vontade para aprender.
Eu fico imaginando como a maldade ganha adeptos, e como às vezes colorir um mundo cinza pode ser melhor em alguns casos. Que Deus proteja sempre a humildade da arrogância. Porque linear, é se movimentar na mesma direção, mude se for egoísta, mude se for mentiroso, mude se for malvado, mude se for invejoso, mude se for ranzinza. Mude, a vida é mudança, mas só conta pontos se for para melhor.
Eu fico imaginando se houvessem mais bondade nesse mundo.
Que tal ser alguém de verdade? Alguém, alguém que se orgulha de ser o que é, de pisar no chão se for essa a sua vontade e sujar de areia os pés. De comer com uma simples colher porque mesmo sabendo manejar o garfo, é mais gostoso sentir o alimento na sua intensidade. Dizer o que pensa com carinho, com delicadeza e não deixar o outro ficar na ilusão de uma falsa imagem.
Eu fico imaginando se eu seria uma dondoca sem respeito por pais que me criaram desde o seu ventre, e tivesse crescido futilmente, vendendo uma beleza externa, e por dentro fosse oca de qualquer predicado, e só de pensar nessa possibilidade dou graças por ter nascido, e ter sido logo deixada num lugar que foi a ponte para eu ser o que sou hoje.
Eu fico imaginando que não acho nada bonito presenciar pais que trabalham demais para fazer confortável a vida de seus diletos filhotes, para quando chegarem à casa cansados, encontrar tudo por fazer. E os privilegiados nem aí, sem se importar com o cansaço deles. Eu fico imaginando, que não saberia querer ser uma tediosa por não achar graça em nada.
Fico imaginando quando a menina se olhou pela primeira vez no espelho, depois de um banho e uma roupa limpinha e cheirosa, e a graxa longe de seu rosto, não sabia que era tão engraçadinha a ponto de tocar lá no espelho, para saber se não era outra que estava ali. E quando sorriu achou a coisa mais estranha do mundo admirar também um sorriso seu, embora nunca lhe faltassem nos lábios para alguém. Estava acostumada a se ver sorrindo no outro.
Eu fico pensando na alegria do seu primeiro dia de aula, e seu caderno improvisado de folhas soltas, que quando foram ao chão no meio de toda aquela molecada, soaram gargalhadas de todos os lado que a deixaram destemperada. Mas a vontade de estar ali era tamanha que juntou todas as folhas uma por uma, e foi tão orgulhosa sentar na sua carteira só dela naquele momento, e ali começou a dançar palavras e juntar os casais para formar amor.
Eu fico pensando como ela respeita cada opinião, cada descaso, cada carinho e cada ofensa como se fossem todas dignas, porque sabe que aquilo que o outro lhe entrega é tudo que ele tem.
Eu fico pensando como é bom não economizar nada que seja de bom para o outro, porque ele precisa de coisas boas por carregar uma cruz que por vezes é muito pesada, mas só ele e Deus é que tem essa própria ciência.
Eu fico pensando que somos construtores de nossa casa interior, e tudo que seja para lhe fazer melhorar é bem vindo.
Então constato: IMAGINAR dói menos agora.
Eu fico imaginando quando perguntava sobre o natal, e a faisquinha nos olhos era de um gosto só. Ainda havia o samba alegre no peito, por sentir que o rumo da prosa ia ter pedido novo.
E ela pedia que o papai Noel naquele ano trouxesse pais para a Bia, a Maria, a Suzana e para todas as suas amiguinhas. Mas para ela não precisa ouviu papai do céu? Eu já tenho os meus. Qualquer dia desses eles vêm e me levam para casa tá?
Eu fico imaginando, quando os dias passavam, os natais se repetiam e da janela, ela ainda não conseguia observar nada, era naniquinha, mas já dava para subir na cama e verificar o brilho das estrelas piscando para ela, como se dissessem: menina eles vão vir, não perca a esperança. Ela não perdia, lembrava sempre que a senhora do orfanato lhe dissera. “Ela disse que voltaria para te buscar”. Não queria lembrar-se daquela parte que a moça disse (em 2 dias). Essa ela fazia questão de esquecer.
Eu fico imaginando como a menina chorava bem caladinha e se ouvia apenas um soluço tão baixinho, que se precisavam atinar bem os ouvidos para ouvir.
Mas de tanto pedir por seus amiguinhos, decidiu pedir também para si e para isso não iria esperar o natal. Iria falar com seu amigão do alto também sobre isso durante os dias. E falou, e pediu, e esperou.
Ela disse: Senhor do alto, não pense que não sei do seu trabalho aqui na Terra, sei que é muito pesado cuidar de um mundão vasto assim, mas quando estiver cuidando e pondo as coisas em ordem, descobre dona Helena para mim? Pode plantar no coração dela uma saudade bem grandona da menina que ela deixou aqui. Fala para ela que ninguém trocou o meu nome, ainda é o mesmo, e que eu continuo esperando há quatro anos. Diz também que eu mudei, mas só um pouquinho, meus cabelos cresceram e eu fiquei branca de doer, mas tenho a correntinha que ela deixou no meu pescoço.
Eu fico imaginando na choradeira que foi, quando mais um ano passou e nada! E doía tanto por dentro dela que a menina não sabia mais como massagear o peito, para parar a dor. Olhava em volta, via os pequenos como ela dormindo e se compadecia deles também. Somos todos irmãos de pais diferentes na Terra, mas somos iguais perante o Senhor do alto. Queria que cada um deles tivesse um lar, um pai e uma mãe, mesmo que ela nunca mais pudesse ter.
Eu fico imaginando a felicidade nos olhos dela quando cada um dos seus irmãos de lar, foram adotados, ela olhava da janela com a ajuda de um banquinho, a felicidade deles, e corria de um lado para o outro do quarto, e o sorriso largo fartando-lhe a face. Era sua felicidade também ali. Juntava as mãozinhas numa alegria tão pura.
Eu fico imaginando, como foi difícil aprender a guardar a tristeza numa caixinha dentro do peito, porque as outras pessoas precisavam de alegria. Ela também carecia de gargalhar para não enraizar a tristeza na alma, e foi o que fez. Foi plantar flores e amor no mundo, era sua responsabilidade, ela sentia que era.
Eu fico imaginando, quando levou uma surra de camisa molhada aos 4 anos, porque o lençol de sua cama não deixou a bolinha de gude rolar livremente sobre ela, para constatar que a arrumação estava impecável. Ela correu para o canto do quarto e foi chorar uma dor misturada, dor física com dor na alma. Tão gigante tudo aquilo, que a menina decidiu fugir dali para nunca mais voltar.
Eu fico imaginando, na primeira noite descobrindo um céu sem grades, sem bancos, sem confessionários. Ali ela podia chamar o Senhor do alto, sem receios de a senhora má os ouvir, apenas com o receio de um novato em algo que depara pela primeira vez.
Eu fico imaginando, como a maldade pode ser cíclica, principalmente por força de poder. Os dias vieram como que confusos e maravilhosos. Cheios de descobertas e decepções, mas havia força de vontade para aprender.
Eu fico imaginando como a maldade ganha adeptos, e como às vezes colorir um mundo cinza pode ser melhor em alguns casos. Que Deus proteja sempre a humildade da arrogância. Porque linear, é se movimentar na mesma direção, mude se for egoísta, mude se for mentiroso, mude se for malvado, mude se for invejoso, mude se for ranzinza. Mude, a vida é mudança, mas só conta pontos se for para melhor.
Eu fico imaginando se houvessem mais bondade nesse mundo.
Que tal ser alguém de verdade? Alguém, alguém que se orgulha de ser o que é, de pisar no chão se for essa a sua vontade e sujar de areia os pés. De comer com uma simples colher porque mesmo sabendo manejar o garfo, é mais gostoso sentir o alimento na sua intensidade. Dizer o que pensa com carinho, com delicadeza e não deixar o outro ficar na ilusão de uma falsa imagem.
Eu fico imaginando se eu seria uma dondoca sem respeito por pais que me criaram desde o seu ventre, e tivesse crescido futilmente, vendendo uma beleza externa, e por dentro fosse oca de qualquer predicado, e só de pensar nessa possibilidade dou graças por ter nascido, e ter sido logo deixada num lugar que foi a ponte para eu ser o que sou hoje.
Eu fico imaginando que não acho nada bonito presenciar pais que trabalham demais para fazer confortável a vida de seus diletos filhotes, para quando chegarem à casa cansados, encontrar tudo por fazer. E os privilegiados nem aí, sem se importar com o cansaço deles. Eu fico imaginando, que não saberia querer ser uma tediosa por não achar graça em nada.
Fico imaginando quando a menina se olhou pela primeira vez no espelho, depois de um banho e uma roupa limpinha e cheirosa, e a graxa longe de seu rosto, não sabia que era tão engraçadinha a ponto de tocar lá no espelho, para saber se não era outra que estava ali. E quando sorriu achou a coisa mais estranha do mundo admirar também um sorriso seu, embora nunca lhe faltassem nos lábios para alguém. Estava acostumada a se ver sorrindo no outro.
Eu fico pensando na alegria do seu primeiro dia de aula, e seu caderno improvisado de folhas soltas, que quando foram ao chão no meio de toda aquela molecada, soaram gargalhadas de todos os lado que a deixaram destemperada. Mas a vontade de estar ali era tamanha que juntou todas as folhas uma por uma, e foi tão orgulhosa sentar na sua carteira só dela naquele momento, e ali começou a dançar palavras e juntar os casais para formar amor.
Eu fico pensando como ela respeita cada opinião, cada descaso, cada carinho e cada ofensa como se fossem todas dignas, porque sabe que aquilo que o outro lhe entrega é tudo que ele tem.
Eu fico pensando como é bom não economizar nada que seja de bom para o outro, porque ele precisa de coisas boas por carregar uma cruz que por vezes é muito pesada, mas só ele e Deus é que tem essa própria ciência.
Eu fico pensando que somos construtores de nossa casa interior, e tudo que seja para lhe fazer melhorar é bem vindo.
Então constato: IMAGINAR dói menos agora.
♥
Maria Fernanda
Ser alguém que não tenha medo ou vergonha de ser quem é. Taí uma boa opção para reflexão nesses tempos em que o ser humano é tão artificial.
ResponderExcluirImpressionante, Fernanda, para dizer o mínimo. Bem escrito, bem construído e, principalmente, carregado de sentimento! Gostei muito! Boa semana, obrigado.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirPassando para agradecer a visita e comentário que deixou lá no Perseverança.
Seja sempre bem vinda.
Nicinha
Bom dia Fernanda.
ResponderExcluirUm texto tão lindo e profundo, que é uma verdadeira licão de vida. Na vida há desamores e também muitos amores. Na vida há muito sofrimento e também muito motivo de ser feliz. A vida tem altos e baixos, mas ainda é algo belo que devemos viver intensamente e fazer o bem sem olhar a quem e com isso sempre a paz espiritual existira. Um feliz dia. Forte abraço.
Tão triste as crianças que têm que passar por isso, não consigo imaginar o quanto sofrem. :( Mas bonito texto.
ResponderExcluir--
O diário da Inês | Facebook | Instagram
Que palavras incríveis! Todo o sucesso para este blog, que talento para escrever <3
ResponderExcluirTHE PINK ELEPHANT SHOE // INSTAGRAM //
Eu fico a pensar em cada palavra que escrevestes, muito lindo! bj
ResponderExcluirLinda imaginação. Sonhar é sempre bom e parar nunca se deve. Bela historia de se ler. Parabéns pelo blog
ResponderExcluirOLÁ,
ResponderExcluirCheguei até você através do belíssimo blog CASA DE MADEIRA da Janicce o qual sou seguidor faz muito tempo e quando li seu comentário sobre anjos tive a ideia de convidar (MAIS UMA VEZ VOCÊ POIS JÁ É MINHA SEGUIDORA) você para que REVISITE os meus blogs .Ficaria muito honrado de pudesse ter você como minha leitora e quem sabe seguidora. Afinal a gente escreve para alguém concorda? A maioria dos seguidores da Janicce são meus também , e é seu. Vamos compartilhar, mais ainda?
Fique com Deus.
Um abração carioca.
Você escreve muito bem! Gostei muito do seu blog. Virei seguidora.
ResponderExcluir~~ arteculturaespiritualidade.blogspot.com