(Escrita no dia numa quarta feira, 25 de abril de 2012)
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Mãe, hoje conheci alguém que lembrou a mim, quando tinha sua idade. Uma menina corajosa, ela se chama Liana. Ela estava sentada no meio-fio de uma escola, cabeça baixa e pé descalço. Eu ia passar, mas quando a vi, decidi ficar parada num cantinho observando. Ela levou as mãos para o rosto, enxugou as lágrimas e depois coçou os dois olhinhos, levantou e se aproximou de uma senhora que segurou a bolsa assim que a garota falou com ela.
Num sinal negativo continuou caminhando, a menina novamente sentou.
Caminhei até ela e lhe dei boa tarde. Ela ficou me olhando e depois sorriu timidamente. Afaguei sua cabeça e perguntei o que uma mocinha tão bonita fazia ali, sentada no meio da rua.
Ela me disse estar com fome. Perguntei se ela queria um sanduíche bem recheado, e os olhos e a boca sorriram diante da proposta. Fomos até a lanchonete à frente, e logo ela saboreava o lanche, com gosto. Ela é catadora de lixo, e estava esperando a avó que fora buscar algumas garrafas de pet numa residência. Estava sem café da manhã e almoço.
Fiquei refletindo enquanto a olhava, e lembrei de mim lá atrás quando vivia nas ruas.
Liana me disse o seu nome e perguntou o meu, achou meu nome muito bonito e nós duas ficamos ali uma elogiando a outra rsrsr. Cada elogio meu, ela vinha com outro em seguida para mim, que gracinha. Deixei-a com sua avó que chegara, e fui para o ponto de ônibus.
Sabe mãe? Como será que você é? Será que usa óculos, ou o cabelo preso? Será que gosta de flores, ou de banhos na chuva? Eu sonhei tanto com você... Eu acho que quando penso em ti, você sente. Quando eu era menor, eu me abraçava e imaginava os seus braços em volta de mim, eu sentia você me abraçar e dizer: “filha eu sinto muito”.
Mas a chuva caia e o sol brilhava, a noite chegava e o dia nascia. Céu e mar se uniam para acalentar um coraçãozinho ferido. Aquela menina continuava sozinha a cuidar de si.
Eu fiz uma lata de skol de boneca, ela era a minha filhinha, eu a carregava para a beira do mar, para lhe contar contos que eu quis ouvir, e fazê-la dormir. Batizei-lhe de Helena o nome que é teu. Helena dormia em meu colo, para abrigá-la do frio imaginava uma menina feliz em meus braços e protegida.
Dava a ela o que eu queria ter. As noites eram longas na maioria das vezes. Numa noite um menino chutou Helena para dentro do mar, enquanto eu procurava um papelão para fazer de cama para nós. Eu não consegui tirá-la de lá, porque ele a havia enchido de areia molhada antes de fazer seu procedimento.
Naquela noite eu muito chorei, parecia que o mundo estava desabado por dentro de mim, me senti sozinha, cansada, jogada, um lixo. Mas um senhor que estava assando um peixe numa barraca, me ofereceu um pouco, e se importou com minhas lágrimas. A ele eu contei sobre Helena e o que o menino fizera.
Ele me disse que: o céu durante o dia é azul, mas muitas vezes ele muda de cor, as nuvens guardam vários desenhos, basta olhar e admirar. E Deus, aquele que sabe todas as coisas, um dia iria me mandar a mais linda boneca, e eu iria saber amar e cuidar com meu coração.
Eu lhe respondi, mas vai demorar? Ele disse: no tempo certo. Nunca ganhei a tal boneca, mas me alegrava em lembrar suas palavras.
Fui crescendo e muitas coisas aconteceram, algumas tristes, outras alegres, mas com elas fui aprendendo a viver dentro do amor. Vejo-me uma pessoa bem simples, mas carrego comigo a confiança, fé, coragem, e igualdade.
Logo estará chegando o dia das mães, eu já tenho uma maravilhosa mamãe sabe? Mas não poderia deixar de escrever também para você. Sou muito grata por ter permitido que eu nascesse, abaixo de Deus, e não ter me jogado em um bueiro e nem na lixeira.
Pelas conversas que tivemos, mesmo que dentro da minha imaginação, elas me ajudaram muito. Eu me aqueci dentro delas com paciência, e era a filha desejada para ti. Também eu podia voltar para casa, sonhar era mais fácil e eu sonhei e sonhei...
Saiba: Deus e você sempre foram o abastecimento para me fazer seguir à diante. Meu coração vivia lançado ao amor em cada segundo. E a tristeza passava quando eu via uma criança sendo afagada, eu pensava que eu também podia sentir aquela honra, mesmo não sendo em mim.
Mãe, um dia eu esqueci o meu nome, porque passei muita fome e fiquei doente. O médico disse que estava em estado de choque. Mas a memória não falhou quando eu ouvi a palavra mágica “filha”. É que eu queria tanto ser filha. Eu te esperei, te procurei... No orfanato, você não voltou, nem no “meu” banco de praça você não sentou, e na minha porta você não bateu. Mas não se preocupe, há alguns sonhos que não se realizam, e esse eu apenas aprendi a sonhar, sabia que seria impossível realizar.
Neste momento olho para o céu e peço para que cuide e proteja você. Minha mãe Cris sempre ora por ti também, ela é doce e terna, e ama muito a Deus. Desculpa mãe se às vezes eu sinto que você está triste e que lembra de mim, sinto muito por não termos ficado juntas. Mas eu sempre vou ser parte de você e você de mim. Pacientemente eu vou continuar te amando. Te amo muito mamãe.
Queria te dizer também que abriguei dentro do meu coração um moço lindo. A essência de um menino, num coração de um homem. Só o amor é capaz de dividir-se assim. Felipe vem se distendendo por mim e eu sei disso. Ele meu príncipe, caminha agora comigo na mesma estrada, é um presente dos céus, é amor eterno.
Meu amor, obrigada por cuidar de mim tão bem!
Mãe até um dia.
Num sinal negativo continuou caminhando, a menina novamente sentou.
Caminhei até ela e lhe dei boa tarde. Ela ficou me olhando e depois sorriu timidamente. Afaguei sua cabeça e perguntei o que uma mocinha tão bonita fazia ali, sentada no meio da rua.
Ela me disse estar com fome. Perguntei se ela queria um sanduíche bem recheado, e os olhos e a boca sorriram diante da proposta. Fomos até a lanchonete à frente, e logo ela saboreava o lanche, com gosto. Ela é catadora de lixo, e estava esperando a avó que fora buscar algumas garrafas de pet numa residência. Estava sem café da manhã e almoço.
Fiquei refletindo enquanto a olhava, e lembrei de mim lá atrás quando vivia nas ruas.
Liana me disse o seu nome e perguntou o meu, achou meu nome muito bonito e nós duas ficamos ali uma elogiando a outra rsrsr. Cada elogio meu, ela vinha com outro em seguida para mim, que gracinha. Deixei-a com sua avó que chegara, e fui para o ponto de ônibus.
Sabe mãe? Como será que você é? Será que usa óculos, ou o cabelo preso? Será que gosta de flores, ou de banhos na chuva? Eu sonhei tanto com você... Eu acho que quando penso em ti, você sente. Quando eu era menor, eu me abraçava e imaginava os seus braços em volta de mim, eu sentia você me abraçar e dizer: “filha eu sinto muito”.
Mas a chuva caia e o sol brilhava, a noite chegava e o dia nascia. Céu e mar se uniam para acalentar um coraçãozinho ferido. Aquela menina continuava sozinha a cuidar de si.
Eu fiz uma lata de skol de boneca, ela era a minha filhinha, eu a carregava para a beira do mar, para lhe contar contos que eu quis ouvir, e fazê-la dormir. Batizei-lhe de Helena o nome que é teu. Helena dormia em meu colo, para abrigá-la do frio imaginava uma menina feliz em meus braços e protegida.
Dava a ela o que eu queria ter. As noites eram longas na maioria das vezes. Numa noite um menino chutou Helena para dentro do mar, enquanto eu procurava um papelão para fazer de cama para nós. Eu não consegui tirá-la de lá, porque ele a havia enchido de areia molhada antes de fazer seu procedimento.
Naquela noite eu muito chorei, parecia que o mundo estava desabado por dentro de mim, me senti sozinha, cansada, jogada, um lixo. Mas um senhor que estava assando um peixe numa barraca, me ofereceu um pouco, e se importou com minhas lágrimas. A ele eu contei sobre Helena e o que o menino fizera.
Ele me disse que: o céu durante o dia é azul, mas muitas vezes ele muda de cor, as nuvens guardam vários desenhos, basta olhar e admirar. E Deus, aquele que sabe todas as coisas, um dia iria me mandar a mais linda boneca, e eu iria saber amar e cuidar com meu coração.
Eu lhe respondi, mas vai demorar? Ele disse: no tempo certo. Nunca ganhei a tal boneca, mas me alegrava em lembrar suas palavras.
Fui crescendo e muitas coisas aconteceram, algumas tristes, outras alegres, mas com elas fui aprendendo a viver dentro do amor. Vejo-me uma pessoa bem simples, mas carrego comigo a confiança, fé, coragem, e igualdade.
Logo estará chegando o dia das mães, eu já tenho uma maravilhosa mamãe sabe? Mas não poderia deixar de escrever também para você. Sou muito grata por ter permitido que eu nascesse, abaixo de Deus, e não ter me jogado em um bueiro e nem na lixeira.
Pelas conversas que tivemos, mesmo que dentro da minha imaginação, elas me ajudaram muito. Eu me aqueci dentro delas com paciência, e era a filha desejada para ti. Também eu podia voltar para casa, sonhar era mais fácil e eu sonhei e sonhei...
Saiba: Deus e você sempre foram o abastecimento para me fazer seguir à diante. Meu coração vivia lançado ao amor em cada segundo. E a tristeza passava quando eu via uma criança sendo afagada, eu pensava que eu também podia sentir aquela honra, mesmo não sendo em mim.
Mãe, um dia eu esqueci o meu nome, porque passei muita fome e fiquei doente. O médico disse que estava em estado de choque. Mas a memória não falhou quando eu ouvi a palavra mágica “filha”. É que eu queria tanto ser filha. Eu te esperei, te procurei... No orfanato, você não voltou, nem no “meu” banco de praça você não sentou, e na minha porta você não bateu. Mas não se preocupe, há alguns sonhos que não se realizam, e esse eu apenas aprendi a sonhar, sabia que seria impossível realizar.
Neste momento olho para o céu e peço para que cuide e proteja você. Minha mãe Cris sempre ora por ti também, ela é doce e terna, e ama muito a Deus. Desculpa mãe se às vezes eu sinto que você está triste e que lembra de mim, sinto muito por não termos ficado juntas. Mas eu sempre vou ser parte de você e você de mim. Pacientemente eu vou continuar te amando. Te amo muito mamãe.
Queria te dizer também que abriguei dentro do meu coração um moço lindo. A essência de um menino, num coração de um homem. Só o amor é capaz de dividir-se assim. Felipe vem se distendendo por mim e eu sei disso. Ele meu príncipe, caminha agora comigo na mesma estrada, é um presente dos céus, é amor eterno.
Meu amor, obrigada por cuidar de mim tão bem!
Mãe até um dia.
♥
(Autoria: Fernanda)
Linda e terna historia.
ResponderExcluirAbraços querida Fernandinha.
Uma semana de paz no seu coração.
Beijo de paz.
Cada vez mais me sinto privilegiada por te ter encontrado, por fazeres parte do meu mundo de sonhos, do meu mundo de afetos. Cada vez me sinto mais pequenina, diante de "gente miúda" tão grande.
ResponderExcluirO meu terno beijo, meu anjo!
M.